Água de Licheiro

Aqui neste aquário, Água de Licheiro, toda a essência da minha literatura de bordel. Espero que vocês se divirtam bastante!
 

"Tinha uma Arara-Azul no meio do caminho..." 

 
Quem não gostaria de estender roupas no varal do quintal de casa e ter o privilégio de ver bem de pertinho uma Arara-Azul? Eu não tenho o mínimo interesse. Prefiro a barulheira dos periquitos verdes, das Maritacas. O canto dos Sabiás e Bem-te-vis. A roubalheira dos Pardais. O sobrevoo de Pombas e Urubus! É porque é um saco pegar a roupa da máquina de lavar para estender no varal e ainda por cima, toda vez que fazer isto bater a cabeça no rabo de uma Arara-Azul, em madeira, comprada na feira de artesanatos de Embu das Artes.
Ela fica pendurada bem no trajeto da máquina de lavar para o varal e não havia outro lugar para posicionar esta réplica de cuja bronca eu triplico neste texto, não só contra a Arara-Azul, mas também o Tamanduá-Bandeira e o Mico-Leão-Dourado.
Como se não bastasse eu bater a cabeça no rabo da Arara Azul, em seguida tropeço no Tamanduá-Bandeira! Se é Bandeira, por que eu não coloquei essa raridade num mastro? Ficaria mais fácil de notar.
Os vizinhos já devem estar falando assim de mim:

- É ali que mora aquela espécie rara, o "Vizinho-de-cabeça-enfaixada".


E por que eu não adotei logo de cara um Tamanduá de verdade, para acabar com as formigas que invadem a minha cozinha por qualquer migalha de pão que sobrou do café da manhã? São perguntas que não querem calar. Fui contaminado pela febre ecológica das Ongs. A WWF hoje, pra mim, deveria ser WWO: nenhum animal em extinção compareceu em meu quintal para me bater. Greenpeace? Como ter paz tropeçando a toda hora num Tamanduá- Bandeira. Será que na época em que deu a louca em mim e transformei meu quintal neste zôo não existia uma espécie do tipo "Arara-Azul sem rabo"? "Tamanduá- Bandeirinha"? E sem focinho? Sim, já pensei em decepar o rabo desta ave rara, desta "Arara-rara" e o focinho do Tamanduá.
Mico Leão Dourado. As imitações artesanais de cinco Mico-Leões-Dourados me fazem "pagar o maior Mico" com os vizinhos. Taí outra espécie que deveria nascer sem o rabo. Na volta do varal para a máquina de lavar, vivo batendo a cabeça no rabo destes macacos que mais parecem seres vivos. Nunca um provérbio foi tão importante em minha vida como este: "Cada macaco no seu galho".


Tigre de Bengala. Neste protegido das Ongs até que eu tropeço pouco. É porque ele está sentado, numa posição onde o rabo fica encolhido, mas a merda da bengala que o artista lá de Embu fez é sacanagem. Parece que o Tigre está literalmente querendo colocar a bengala no meio da minha passagem para a sala, só para eu tropeçar! Agora estou muito preocupado com a morte da última Tartaruga Gigante de Galápagos. Uma gigante dúvida de onde vou colocar a réplica desta espécie.
Outro dia, percebi no único animal vivo que tenho em casa, meu cachorro de estimação, um fato que pode mudar toda esta história. O vira-lata nunca soltou uma pulga aqui na poltrona de casa e também jamais teve ocorrências de carrapato. Será que estes dois insetos estão em extinção? Nem vou esperar o pronunciamento destas Ongs naturebas! Hoje mesmo eu vou até Embu das Artes ver se consigo encontrar réplicas de pulgas e carrapatos. Só que em tamanho original e, de preferência, sem rabos, asas, bengalas ou focinhos compridos.

Mauzinho 2012

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