Aguardente

Crônicas e poemas sobre a birita, a marvada da cachaça! Não é a toa que um de meus e-mails é "depinga67@yahoo.com.br". Este é um aquário do blog onde tudo é dobrado. Uma frase de duplo sentido vai dobrando até virar quatro, cinco, seis... Para começar, aí vai uma das boas!



"Toquinho e Vinícius"

Este ano estou usando com mais freqüência como meio de transporte o metro de São Paulo. De segunda a sexta, antes das sete da manhã, começo o dia na Santa Cruz: pregado, como Jesus, e empregado Graças a Deus! "Quem inventou o trabalho não tinha coisa melhor para fazer", como dizia o mestre da vida Carlito Maia.

 
 
 
E faz meses que reparei num sujeito que vive nas redondezas do metrô Santa Cruz. Ele na verdade mora lá. Um mendigo que não possui traços brasileiros no seu rosto e mais se parece com um europeu, um russo ou tcheco. Um Bolchevique. Sempre que passo perto dele, o sujeito está rodeado de bitucas de cigarro que ele apanhou do chão, restos da fumarada das pessoas que saíram do Shopping Metro Santa Cruz para dar uma baforada no ar puro, em apuros, de São Paulo. Apesar de fumar sem parar, o cara tem saúde. E muita! Quando cruzo com ele, esboço falar alguma coisa, puxar conversa, mas desisto... O negócio dele é puxar fumo. E dá-lhe cigarro! Uma bituca atrás da outra. Ao mesmo tempo em que ele recicla o lixo dos outros, se tivesse o hábito de jogá-las ao cesto de lixo, estaria realizando uma atitude de proteção ao meio ambiente. Mas não. Ao redor dele, uma multidão de "toquinhos de cigarro". E foi destes toquinhos que veio o apelido que coloquei nele: Toquinho. E pra completar, fiz uma paródia da música do Toquinho, o cantor e compositor. Ao invés de "Aquarela", dei o nome de "Amarela". A canção do mendigo ficou assim: "Uma bituca qualquer deixa o meu sorriso amarelo/E com cinco ou seis maços eu vou pro hospital de chinelo..."
E as semanas foram se passando, eu apressado, correndo para trabalhar, antes das sete da manhã, olhando na maioria das vezes para baixo, vendo as bitucas consumidas pelo mendigo e o Toquinho só de toca, olhando para o céu, fumando e sorrindo, com o olhar perdido... O olhar era tão distante que me impedia de aproximar a ele sequer para dar bom dia. Se fosse fazer uma trilha sonora desta cena, a minha seria: "Lava roupa todo dia, que agonia...", já a do Toquinho: "É melhor ser alegre do que triste, a alegria é melhor coisa que existe...".


 
 
Mas numa manhã, ao passar pela entrada da Avenida Domingos de Moraes, eu avistei o Toquinho amparando outro mendigo, um senhor, completamente bêbado e com uma garrafa de pinga na mão.

- "Êpa. Mas aquele lá não é o Toquinho?... É ele mesmo... Mas quem será o outro cara que ele está carregando?... Um velho bêbado, em plena Domingos de Moraes, com uma garrafa na mão, sendo amparado pelo Toquinho? Ah, só pode ser o Vinicius!".
                                                                                                                            Mauzinho 2012


Nenhum comentário:

Postar um comentário