quarta-feira, 28 de novembro de 2012

"Os Primeiros Serão Os Últimos"

 

Eu vi quando as pessoas que estavam na minha frente disfarçaram e foram fazer outras coisas, ao invés de pegar o único prato a disposição na entrada do restaurante por quilo. Esquivaram-se, um a um, até chegar a minha vez. Eu também não peguei

Se um foi lavar as mãos, a outra foi apanhar os garfos e um terceiro foi o banheiro, por que eu seria o premiado? A mim restou a mesinha de aperitivos, com a batida de côco e caipirinhas. E vários copinhos plásticos. Ali era firmeza eu pegar o copo sem preocupação como: "Será que o copo foi lavado? E se alguém espirrou bem cima dos copinhos?"

Foi lá que me apoiei até que viessem os novos pratos. E espero, devidamente lavados.

O rapaz que foi ao banheiro voltou mas os pratos não. O cara deu meia volta, para secar melhor as mãos. A moça que foi apanhar os talheres, vendo somente aquele prato a disposição, se esqueceu do guardanapo. Voltou para apanhar, o mais lento possível. E o educado que estava na minha frente e foi lavar as mãos, esperto, continuou lavando.

É interessante como muita gente não tem coragem de pegar o primeiro prato da pilha. Se eu fosse dono de um restaurante por quilo, certamente aprontaria das minhas. Colocaria um prato todo azul, com uma indicação: "Este prato pertenceu a Roberto Carlos". Deixaria em destaque, o primeiro da fila.

Comparo pegar o primeiro prato da pilha num "Self-Service" a pegar a última azeitona da porção do boteco. Decisão dificílima...




A garçonete enfim chega com a nova louça. Limpinha e bem cima daquele único prato. Conclusão: ele vai continuar sendo rejeitado. Bulling do primeiro e último prato da pilha. Preconceito. E ninguém pensa que o primeiro prato da pilha nova, depois de inúmeras rejeições, será o penúltimo, antes daquele que restou sozinho na mesa e que era o primeiro. E vai sobrar para alguém pegá-lo, pensando todo orgulhoso:"Ufa! Quase peguei aquele mais sujinho"

Mas quem é consciente, no caso de ter somente dois pratos disponíveis, não pega nem o de cima e nem o de baixo. Fica numa dúvida tremenda, pois não tem como pegar o que está debaixo e nem o de cima.

E não é que nestas condições, tudo muda: "Os primeiros serão os últimos"...

Mauzinho 2012

 

domingo, 18 de novembro de 2012

"Avenida Vinte e seis de Maio"



Vinte e cinco de Março, XV de Novembro, Nove de Julho. Todas avenidas movimentadas, conhecidas, enfim, grandes avenidas, grandes datas. Por falar em grandes datas, outro dia dirigia meu carro em pleno feiradão pela Avenida Vinte e três de Maio, quando percebi sua grandeza, sua beleza, sua importância unindo o Norte e o Sul de São Paulo.

- Putz! Por causa de três dias ela poderia se chamar: Vinte e seis de Maio! Data de meu nascimento!

 


Tanta gente me pergunta aqui na Vila Clementino "Onde fica a Vinte e três de Maio?", "Como se faz para entrar nela?"...

Fui pesquisar e fiquei logo sabendo o porquê do nome:
Recebeu este nome em referência ao dia em que foram mortos os estudantes Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo (conhecidos pelo acrônimo MMDC em 23 de Maio de 1932, com ligação a Revolução Constitucionalista de 1932).

Então é isso! Mas teria sido o Mirgaia algum parente de meu amigo Guilvan Miragaya? Dráusio por acaso seria o Dráusio Varela? Camargo... Zeca Camargo! Não, viajei demais aqui nessa 26 de Maio. Mas por que esses estudantes não se rebelaram em vinte e seis de maio? Teria sido constitucionalmente mais digno e revolucionário esperar mais três dias para morrer e em 1967, após trinta e quatro anos eu nasceria e ficaria sabendo que existe uma rua com a data de meu aniversário! Vou agora mesmo escrever ao novo prefeito, o Fernando Hadadd, para que mude o nome desta avenida. Mas espera aí, pensando bem, essa avenida fica sempre congestionada durante a semana e até aos sábados e Domingos. O que os motoristas xingam essa avenida não é mole, dizem tudo quanto é palavrão! E além do mais, saber que recebeu este nome por causa da morte de quatro estudantes? Sei não... Pensando bem, vou pedir assim ao Hadadd:

 



"Estimado Prefeito de Sampa:

 

Venho por meio desta, deste humilde cidadão, daquela vinte e três de maio e daqueles quatro estudantes do MMDC lhe pedir que crie uma nova travessa, construa alguma ruazinha, travessinha qualquer, de trânsito pacato, fácil de se estacionar o carro, enfim, nem que seja uma travessa de travessurinha, de menos de cinquenta metros com o nome de "Travessa Vinte e seis de Mauzinho" em homenagem a um cidadão cuja data de aniversário foi três dias depois de uma importantíssima data da história de São Paulo..."


Mauzinho 2012

 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O Mágico de Ócio

 
 
 
 
 

Copacabana. Onze da manhã de uma segunda-feira. Estava no Rio de Janeiro para um Congresso da Caixa Econômica Federal e como as palestras só começariam ás sete da noite, aproveitei para pegar uma praia, afinal, a verba era gordinha e desta vez dava pra curtir a Cidade Maravilhosa. Caminhava no calçadão, próximo ao Copacabana Palace, quando uma mulher me chamou á atenção:

- "Que ridículo! Aquela mulher está com roupa social em plena praia de Copacabana! Meu Deus!"

Espera... Eu conheço aquela figurinha! Não é possível! Em pleno Rio de Janeiro fui logo encontrar alguém conhecido? É a Dorothéia, Gerente de Serviços do antigo departamento onde eu trabalhava. Só poderia ser ela mesma, vestida desse jeito, debaixo de quase quarenta graus em plena praia de Copacabana! O pessoal do setor tinha até um chavão pra ela. Um não, dois: "Dorothéia, não falta nem com diarréia!". Ou então, "Dorothéia, trabalha até ficar com cefaléia!". O pior de tudo é que eu vou ter que ajudá-la. "Um ato de solidariedade pode se transformar em uma bela promoção de cargo". É isso mesmo Mauzinho, vá lá e boa sorte!

Fui auxiliar a Dorothéia, que estava vestida com uma calça social, camisa branca com a gola da cor do blazer estilo "Pastora da Igreja Universal", sapato alto e uma pasta 007. A workahoolic se esgoelava para caminhar na areia fofa de Copacabana.

- Olá, Dorothéia! Veio para o Congresso da Caixa você também?

- Mauzinho! Que calor terrível faz aqui! Ajude-me, por favor!

- Calma. Muita calma nesta hora. São onze e pouco da manhã e as palestras só começam ás sete da noite. Eu lhe ajudo a encontrar o Hotel em que você se hospedou.

- Mas eu já deixei as malas lá no Hotel.

- E por que você está vestida assim? Roupa social! E essa pasta cheia de documentos?

- Não são documentos, Mauzinho. São manuais normativos da Caixa.

- O que? E esse cachorrinho? É seu assistente?

- Ah, você estava aí, sua danada! Nunca mais fuja de mim!

- É sua esta cadelinha Yorkshire? Você conseguiu trazer uma cadela pra cá, neste calor insuportável?

- Não tinha com quem deixar... Então, Mauzinho, eu queria saber se você conhece o procedimento do manual RH031.013 - MANDATO ELETIVO. Você quer ler e daí...

- Calma, Dorohtéia. Nós estamos em plena praia... Eu queria apresentar o Rio de Janeiro pra você, esta é...

- Olha, aqui está. Página duzentos e cinqüenta: O cliente no caso deve fazer o que?

- Dorothéia, por favor, está um calor de quase quarenta graus!

- Mauzinho, nem vem. O pessoal disse que tem coisa que só você sabe. Dizem que você é mágico!

- Mágico? Você me deu uma boa idéia...

- Isso, Mauzinho. Qual é a idéia? O que devo fazer? O cliente vai até a agência hoje à tarde! Estou desesperada! Faça alguma coisa!

- Dorothy, quer dizer, Dorothéia, o Mágico aqui está de Ócio. Sou um Mágico de Ócio, vagabundagem pura!

- Mas, Mauzinho...

- Não tem mais Mauzinho. Vamos até aquele quiosque, debaixo de uma sombra para fazermos absolutamente nada. Nothing! Niente! Nula!

- Mula?

- Vamos Dorothy... Você já está delirando debaixo deste sol de quase quarenta graus!

Levei Dorothéia para debaixo de uma bela palmeira perto num quiosque da praia.

- Dorothy, quer dizer, Dorothéia, em primeiro lugar, tire estes sapatos.

- Como tirar os sapatos? Você é o Mágico Mauzinho, deve me ajudar a...

- Nananinanão! Não vou ajudar coisa alguma! Sou o Mágico de Ócio! Tu tem memória fraca hein?

- Você está louco Mauzinho?

- Sim, Dorothéia. Muito louco pra encontrar o homem da lata...


- Não é Homem da Lata. No filme Mágico de Oz é Homem de Lata!

- Pouco importa, estando gelada é o que interessa. Hei, ô da lata! Eu quero duas latinhas bem geladas... E me dê uma daquelas maiores pra minha amiga Dorothéia... Essa tá precisando encher a lata!

Mauzinho 2012