domingo, 9 de setembro de 2012

"Medo de Avião"

Mais uma semana sem chuva, sem água! Então mergulhe aqui nos aquários do Água Crônica! Sêca de literatura aqui não rola! A Água da Semana é do aquário "Águas de Março" aquele que fala das músicas que eu escutava na infância e não entendia a letra devido a pequena idade. Boa leitura e divirta-se!


"Medo de avião"







Eu devia ter no máximo uns sete anos de idade. Bicicleta? Só com o auxílio temporário das "rodinhas" laterais. Por falar em rodinha, quase ninguém no meu círculo de amizades conseguia andar de bike sem o aparato salvador das "rodinhas".

Numa tarde de sábado, fui para a rua. Naquela época não era tão perigoso assim brincar nas ruas em São Paulo e a tranquilidade da Vila Clementino impedia qualquer preocupação mais séria de meus pais. Estava calor e depois de caminhar um pouco me arrependi de não ter apanhado a bicicleta com as inseparáveis "rodinhas" laterais. "Minhas moedas no bolso eram insuficientes para um picolé, porém, para um saquinho daqueles amendoins "caramelizados", com aquela crosta, aquela casca açucarada que todo o profissional de odontologia adora na hora de conseguir mais pacientes, aí sim conseguiria comprar pelo menos dois desses pacotinhos. E foi o que fiz. Entrei no mercadinho do baiano e comprei dois saquinhos de amendoins "caramelizados" que hoje estão na base de um real e cinquenta centavos cada. Fiquei parado na porta do mercadinho do baiano vento o tempo passar e degustando as guloseimas...



Uma, duas, três meninas começaram a circular de bicicleta. Surpresa. Sem as "rodinhas" laterais! Mas calma, eram adolescentes na casa dos doze ou treze anos, corpo começando a ser definido, bem altas e com seus "pernões", compridos, perigo nenhum de cair da bike. Meu saquinho chamou-lhes a atenção... O de amendoim é claro! É no plural, os de amendoins, porque eram dois saquinhos com bastante volume. Pediram um pouco. Mas como eu tinha um certo talento para o marketing, para a venda, para a barganha e negociei a guloseima.

- Só dou se vocês me deixarem andar de bicicleta.

- Andar de bicicleta? Mas de que jeito? Essa aqui não tem rodinha!

- Na garupa...

Negócio fechado! Dois amendoins açucarados, aprovados pelos dentistas que estão com poucos clientes, para cada garota e duas voltas no quarteirão montado na garupa da bike delas! Nem o melhor profissional de marketing faria um negócio tão vantajoso como este!

Primeira volta... Eu então preocupadíssimo com o fato de as bicicletas não terem as rodinhas salvadoras laterais. "Vai tombar, agora a bike vai tombar e ainda bem que será na curva da farmácia do sêo Thomaz...", mas não virou coisa nenhuma. Quem disse que mulher não sabe dirigir? E conforme a preocupação com o trajeto foi passando, fiquei de olho nas traseiras "teens" das meninas! Além de maiores, vinham com um perfuminho especial... Gases? Que gases o quê! Ar só nos pneus da bicicleta. Era perfume mesmo, do bom e na curva da padaria eu prestava a atenção era na padaria daquelas meninas, de idade cinco anos mais velhas. Segurava na cintura delas, encostava o meu rosto nas nádegas "teens’... Não fui piloto de F-1, mas com certeza foram as voltas mais arrepiantes da minha vida!

Chegando em casa, meu pai escutava na vitrola Belchior...



"Foi, por medo de avião, que eu segurei pela primeira vez na sua mão..."

- Meu filho, que foi que aconteceu? Que cara é essa?

- Nada não, pai. Quem é esse que está cantando aí?

- Belchior!

- Pai, esse tal de Belchior nunca andou na garupa de bicicleta?

- Que pergunta filho?

- Pai, esse bigodudo não sabe o que está perdendo!

                                                                                    Mauzinho 2012

10 comentários:

  1. Como sempre suas crônica carregam uma narrativa que nos prende do começo ao fim, acompanhado de algumas tiradas legais que você faz com a linguagem. Meus parabéns, Mauzinho!
    um forte abraço!

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    1. Grande Guilvan!

      Mergulhe sempre por estas águas literárias!

      Abração!

      Mauzinho

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  2. Mauricio, como sempre um prazer ler tuas crônicas. Já estava sentindo falta deste teu bom humor.
    Bel

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  3. Olá Bel! Quem bom que gostou. Mergulhe a vontade nestas águas!

    bjs

    Mauzinho

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  4. Demais Mauzinho! Tu é o cara! Continue sempre assim.

    Grande abraço,

    Fernando

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    1. Cara... Eu não sei se sou o cara ou o coroa? Sabe que semana passada eu fiz a mesma coisa que há quarenta anos atrás? Comprei o pacote de amendoins caramelizados e fiquei parado em frente ao mercadinho... Desta vez do "Coreano" e não do baiano. E não é que surgiram três... Três viaturas da polícia! O China pensou que fosse um assalto...

      Abração!

      Mauzinho

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  5. Maurício, essa crônica tá a cara do meu filho adolescente, sempre babando por causa das meninas mais velhas... tem umas histórias engraçadas dele também! Abraços...

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    1. Jenny,

      Entrei no seu blog e postei os comentários. Agora é só esperar a sorte...

      Abs,

      Mauzinho

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  6. Adorei sua crônica. Deu vontade de ler até o final. Deu até para ver o seu rosto extasiado andando nas traseiras das bicicletas... e nas das meninas.
    Parabéns!

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    1. Olá, Su. Vou pedir para o prefeito fazer uma ciclovia aqui no bairro e não cobrar mais impostos aos mercadinhos que vendem amendoins caramelizados! E ao Belchior tirar o bigode para não fazer cóçegas na hora de pegar uma carona na traseira das bicicletas femininas...

      Obrigado pela visita!

      Mauzinho

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